Azulejista

Entrevista

Entrevista realizada em 2005 pela organização da Bolsa IC

Publicada no site da Fundação Iberê Camargo,

Porto Alegre/Rio de Janeiro

Cristina Ribas

Apresentando o projeto Operação: procedência e pertença, a artista plástica Cristina Ribas, 24 anos, foi uma das finalistas da Bolsa Iberê Camargo de 2004, que teve como vencedor Marcius Galan. No projeto apresentado, Cristina se propunha a investigar, através de percursos pela cidade, os nomes de lugares de Chicago, como cafés, livrarias, edifícios, hotéis, supermercados, e as suas procedências. A partir desta investigação, a artista poderia comprar, trocar ou refazer painéis ou letreiros usados, trazê-los para o espaço expositivo, entre outras ações.

Cristina nasceu em São Borja (RS), mas vive em Porto Alegre. Começou a estudar artes no Atelier Livre, com 17 anos, e, em 2004, graduou-se em Artes Plásticas na Universidade Federal do RS. “Acho que estamos sempre em formação. Claro que tem uma hora que a gente olha para a produção e percebe que já se descobriu um pouco mais, porque ela mistura muito com o próprio modo de vida/forma de atuação”, comenta a artista.

Suas primeiras exposições foram projetos independentes com colegas de faculdade e algumas no Atelier Livre. “A primeira na qual eu consegui colocar ‘tudo ao mesmo tempo’ como vinha ensaiando em atelier – uma exposição multimeios – foi a Visite o apartamento decorado, onde eu apresentava fotografias, objetos deslocados, apropriados, serigrafias…”, conta Cristina, que desde de 2001 vem expondo regularmente.

Cristina também realiza intervenções urbanas. O trabalho Troca de Imagens é um exemplo. Enquanto participava do Spa das Artes, evento promovido pelo MAMAM, em Recife, a artista ficou os dias nas ruas do centro da cidade ofertando imagens para trocar, com carrinho de feira e imagens recortadas de folhetos de propaganda. “Muitas foram trocadas. Teve muita aceitação, de gente de rua mesmo, que não estava a par daquilo como sendo uma intervenção de arte”, conta Cristina.

Outro projeto, que além de ser uma intervenção urbana, precisa da participação atuante do público, é Troca de Azulejos. Ainda em andamento, o trabalho consiste na colagem de cartazes em bairros residenciais e distribuição de folhetos, convidando as pessoas a trocar um dos azulejos de sua casa, por um azul, colocado por Cristina. “Nesse trabalho, eu não ‘apareço’ enquanto ser-artista (num primeiro momento). Divulgo o projeto e espero o telefone tocar. A maioria das pessoas é conhecida, e ainda, é do campo da arte. Desejava que outras pessoas desconhecidas tomassem contato. Mas é o risco que eu corro, e estou ciente dele desde o início do trabalho. O fato da ‘idéia’ do trabalho ser divulgada através do folder acho que vale, em parte”, analisa.

Em 2003, Cristina foi selecionada para participar da Bolsa Pampulha, um programa de residência promovido pelo Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, em que apresentou a exposição Coleção de Intenções. “Costumo dizer que ‘mergulhei’ no meu trabalho. O melhor de tudo é a possibilidade de ser artista e ganhar por isso, o que dá uma segurança para o trabalho”, afirma. Cristina também foi uma das fundadoras do grupo Laranjas, que foi criado em 2002, em Porto Alegre.

Entre os trabalhos recentes da artista, está Cinema Coral, exposição individual que está em cartaz na galeria do Instituto Goethe de Porto Alegre. Na mostra, Cristina apresenta dois letreiros do antigo cinema Coral, que foi fechado na década de 1990, e fotos que registram os espaços vazios e destruídos. “É uma continuidade da minha observação do desaparecimento de alguns cinemas em Porto Alegre (tanto de sua existência institucional, quanto os prédios mesmo). A abordagem do desaparecimento dos cinemas pelo fato de colocar um olhando para o outro, para mim, é um pouco falar do olhar: quem olha o quê? E como? O que estamos olhando? E de que forma olhamos para isso que passou?”, finaliza Cristina.

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