Azulejista

Colagens

COLAGENS, CRISTINA RIBAS

Há pouco mais de um ano resolvi voltar para algumas imagens que pareciam inócuas em meu arquivo pessoal de negativos. O corte da tesoura abre uma brecha como espaço novo nas fotografias de construções destruídas feitas dez anos atrás. Com o projeto Protótipos/Prototypes, eu convido pessoas para realizarmos colagens. Usamos as imagens de meu arquivo pessoal, assim como convido os participantes a trazerem imagens de seus repertórios visuais. Conversas acompanham a formação de novos cenários, lugares, paisagens e, logo, situações novamente inclassificáveis, oscilantes entre realidades e tempos históricos distintos. Há imagens de guerra (bombardeios aéreos e quarteirões inteiros destruídos), demolições e reconstruções, escavações arqueológicas; operações que deformam as cidades, tais como a “regeneração” de cidades européias.

Para marcelina | hic et nunc, somaram-se imagens de outra ordem (ou outro arquivo): resolvi usar o mesmo procedimento da colagem ou montagem para fotografias já amassadas de situações de exposição de meu trabalho como artista, como as instalações e objetos que, dispostos nos ambientes, desenham sombras. O espaço da imagem, aqui “explodido”, destaca a estrutura de cada elemento. Com os fragmentos começa a surgir uma composição móvel de imagens. E a câmera fotográfica é utilizada novamente, como ferramenta para registrar montagens temporais. No movimento das mãos que mixam os recortes, fica em aberto o que será a próxima “colagem”.

Ao elaborar esse dossiê, fiquei presa (e porque não ao mesmo tempo solta) entre dois textos de Walter Benjamin: “Teoria da Distração” e “O Caráter Destrutivo”, textos-anotação que se tornam territórios, induzindo às pequenas imagens um vazio repleto de contexto; de certa maneira forçando uma vulgaridade e sugerindo novas consignações e constelações. Com as sobras de recortes de fotografia pergunto: há “fotografia” que se refaz?

Rio de Janeiro, setembro/outubro de 2010

(texto publicado na revista)

Referências bibliográficas

ALBUQUERQUE, Fernanda. Sobre arquivos vivos e outras emergências. In: Número Nove. São Paulo, dezembro de 2006. p. 14-16. (revista)

OLIVA, Fernando. As paredes estão ruindo ou estão sendo pintadas? In: Número Quatro. São Paulo, 2004. p. 12. (revista)

SANTOS, Alexandre dos. Da cidade como resposta à cidade como pergunta: a fotografia como dispositivo de representação/apresentação do espaço urbano. In: A fotografia nos processos artísticos contemporâneos. Alexandre dos Santos e Maria Ivone dos Santos. (org.) Porto Alegre: Unidade Editorial SEC, Editora da UFRGS, 2004. (p. 38-60)

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